Coluna do Domingo: Política ambiental jogada no “lixo”
Desde o final de dezembro não se fala em outra coisa em Serra Talhada a não ser a polêmica do lixão a céu aberto interditado pelo Tribunal de Contas de Pernambuco. O local que deveria servir como transbordo temporário se tornou um verdadeiro lixão clandestino nos últimos três anos.
Inicialmente o terreno era usado apenas para a transferência do lixo dos caminhões compactadores para as carretas encarregadas de fazer o transporte dos resíduos ao aterro sanitário de Salgueiro. Mas, ao longo dos últimos anos, a prefeitura reduziu o volume de lixo enviado aos aterros sanitários e passou a depositar os resíduos diretamente no solo, provocando uma grave contaminação ambiental, conforme relatório do TCE-PE.
E o mais grave é que a Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH) tinha conhecimento do lixão, mas fez vista grossa por vários meses em 2023, dando margem para a gestão Márcia continuar jogando lixo no terreno e postergar a implantação da Estação Pública de Transbordo de Resíduos Sólidos Urbanos.
O escândalo escancarado pelos fiscais do Tribunal de Contas evidencia a fragilidade da gestão ambiental em Serra Talhada. Enquanto o governo fazia publicidade nas mídias sociais e na imprensa sobre os avanços na sustentabilidade, mantinha um lixão clandestino com mais de oito metros de altura.
Curiosamente, a gestão vinha usando a coleta de lixo como propaganda positiva do governo pela eficiência do serviço, maquiando a verdadeira realidade por trás da coleta: o lixo tirado das portas das residências era jogado no solo ao invés de ser enviado para os aterros sanitários de Salgueiro e Afogados da Ingazeira. O motivo: débitos acumulados junto aos dois aterros, conforme apontou o relatório de fiscalização do TCE-PE. Veja o relatório.
Com a desativação do lixão, o governo entrou em parafuso para manter a coleta do lixo produzido nas residências. A semana foi marcada pelo caos na cidade, com lixo espalhado de canto a canto, mau cheiro, tapurus e aves carniceiras sobrevoando os bairros. Choveu reclamações da população.
A secretária Simone Daniel informou que conseguiu contratar novos carros compactadores para reforçar a coleta e transporte para Afogados. O município também estaria correndo atrás para construir a Estação de Transbordo. Não há prazo definido.
Não destravou: No comando do município desde janeiro de 2021, a prefeita Márcia Conrado não conseguiu em três anos construir uma estação de transbordo definitiva para evitar a contaminação do solo. Agora, tentando amenizar o desgaste político, o governo tenta responsabilizar a gestão anterior pelo colapso na limpeza pública. É claro que havia problemas com lixo nos governos passados, mas não é admissível tentar se eximir de responsabilidade após três anos no poder. Inclusive, foi comprado um novo terreno no final do governo de Duque para a construção do transbordo. A articulação da compra teria sido feita por Fred Pereira, que à época atuava como auxiliar da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo. Hoje, aliado de Márcia, Fred pode apresentar o terreno ao governo. Pode ser uma solução.
Não destravou 2 – Chamada de destravadora de obras pela propaganda do governo, a prefeita Márcia Conrado tem um abacaxi dos grandes para descascar. Apesar dos aliados insistirem que os problemas da coleta de lixo já estão resolvidos, não é verdade. Sem poder mais jogar os resíduos no lixão, a prefeitura provou que não tinha um plano B. Levar o lixo em compactadores com rapidez para Afogados é inviável, considerando a distância de quase 200 quilômetros e as despesas exorbitantes para bancar as inúmeras viagens. Outro entrave é a inadimplência, como constatou o TCE-PE. A informação é que o governo conseguiu pagar ao aterro de Afogados, mas ainda estaria devendo a Salgueiro.
Fake news do TCE? – A secretária Simone Daniel negou que haja débitos. Ela só não especificou se os débitos inexistentes seriam junto às empresas da limpeza ou aos aterros. “Não existem débitos, é sempre pago mensalmente”, garantiu Simone em entrevista à Rádio Lider FM. Já o secretário de Comunicação, Anderson Tennens, sugeriu que o jurídico da prefeitura acione quem disser por aí que o município está inadimplente. Nesse caso, além de processar o vereador Vandinho, oposicionistas e integrantes da imprensa, a prefeitura vai ter que processar o ex-presidente do TCE, Ranilson Ramos, que assinou o relatório em dezembro constatando os débitos junto ao aterro sanitário de Afogados e às empresas CR Ambiental e Piemonte.
“A equipe de fiscalização deste Tribunal, diante das irregularidades descritas, evidenciou uma gestão temerária do Município quanto à questão da coleta, transporte e destinação dos Resíduos Sólidos Urbanos (RSU), sendo verificado que a Prefeitura se encontra inadimplente quanto aos pagamentos devidos as duas empresas responsáveis pela coleta (CR AMBIENTAL e PIEMONTE), bem como a empresa responsável pelo Aterro Sanitário de Afogados da Ingazeira (ALBERTO BERTO)”. Fonte: TCE-PE.
Silêncio – A prefeitura ainda tentou disfarçar o caos na limpeza pública. Defensores da gestão (incluindo cargos comissionados) se revezavam nas redes sociais para desmentir informações sobre problemas na coleta de lixo. Mas, não aguentaram por muito tempo. Sem alternativa, tiveram que admitir as dificuldades para manter o calendário de coleta. Por enquanto, anunciaram calendário emergencial válido para este sábado (6).
Silêncio 2 – Chama atenção o silêncio dos gestores responsáveis pela política ambiental em Serra Talhada. Nem o secretário de Meio Ambiente, Sinézio Rodrigues, e nem o presidente da Agência Municipal de Meio Ambiente (AMMA), Ercilio Ferrari, se manifestaram acerca da poluição ambiental cometida pelo governo Márcia. Mesmo não sendo responsáveis pela limpeza pública, os dois são responsáveis pela agenda ambiental a nível de município. Silenciar não deveria ser uma opção. Será difícil fazer publicidade a partir de agora usando o meio ambiente como plano de fundo.
E o PT? – O partido de Márcia e Sinézio também mantém o silêncio sobre a poluição ambiental e as condições insalubres enfrentadas pelos garis encima de caçambas cheias de lixo, como no século passado. O Partido dos Trabalhadores ainda defende os trabalhadores? Difícil saber.
CURTAS
Cadê os comprovantes – Terminou o ano e a novela dos consignados segue sem solução em Serra Talhada. O Ministério Público recomendou à prefeitura deixar de reter os valores dos servidores. A prefeitura garante que está pagando e diz que foi erro de algum funcionário dos bancos. É simples: basta o governo apresentar os comprovantes de transferência bancária dos valores às respectivas agências. Se pagou, mostra os comprovantes. Porque já passou da hora do problema ser resolvido. O MP, inclusive, demorou muito para agir. Já deveria ter apresentado ação de improbidade administrativa.
Insatisfeito – É notório que o empresário Faeca Melo não está feliz com a condução do grupo de Sebastião Oliveira na escolha do nome do Avante em Serra Talhada. Deixado de fora da lista preliminar de possíveis pré-candidatos, Faeca vem soltando indiretas nas redes sociais. Frequentemente aparece em clima de confraternização com governistas. Disse que pode ser candidato. Comenta-se que estaria balançado para fechar com Márcia. Quem sabe não será o vice da petista?
“Márcia Conrado vai moer a máquina” – A declaração é do secretário de Esporte e Lazer, Helano Peixoto. Ele disse que Luciano Duque não assumiu ainda que é candidato a prefeito porque não teria condições de atender os pedidos das lideranças políticas do município, que acabariam insatisfeitas e correndo para os braços de Márcia. Na visão do secretário, só a prefeita consegue atender as demandas das lideranças por ter a máquina na mão. E garantiu que agora em 2024 “Márcia vai moer a máquina”. Problema é que pela legislação eleitoral usar a estrutura pública para benefício político é crime.
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