O pacto de Márcia e Sebá para barrar a candidatura de Duque

Editorial

Desde que a aliança política entre a prefeita Márcia Conrado e o ex-deputado Sebastião Oliveira vazou na imprensa de Serra Talhada na última quinta-feira (15), apoiadores dos dois lados riem a toa nas redes sociais comemorando o acordo como sendo a garantia final de reeleição da petista, que vinha enfrentando uma queda severa de popularidade conforme as pesquisas divulgadas em 2023.

Mas o curioso é que enquanto os apoiadores festejam a aliança Sebá/Márcia, os principais interessados combinaram um pacto de silêncio entre si. Nem Márcia, nem Sebastião e nem Waldemar Oliveira confirmam ou comentam o acordo.

Pelo contrário, Waldemar já desmentiu a aliança duas vezes em entrevista à imprensa local, repetindo que o Avante tem pré-candidato [André Maio], enquanto Márcia desconversou o assunto ao ser questionada durante evento no sábado (16).

E a tendência é que eles sigam desconversando a aliança e evitem aparecer juntos publicamente até o prazo limite das convenções municipais, caso contrário Sebá teria participado do ato de apoio a Márcia no sábado em Serra Talhada, com agenda inicial no Aeroporto Santa Magalhães, obra com total DNA sebastianista. Curiosamente, ele nem apareceu e nem foi lembrado pela prefeita, corroborando a tese de aliança discreta para evitar rejeição para os dois lados.

Porém, o silêncio dos três sinaliza quais foram os verdadeiros termos do acordo firmado na casa de Sebá com a presença de Marília Arraes e quais são as reais intenções de Márcia ao engolir o orgulho e ir atrás de uma aliança desnecessária para o seu palanque: inviabilizar a qualquer custo a candidatura de Luciano Duque, nome que ameaça seriamente a sua reeleição em Serra Talhada.

Ou seja, Márcia não foi atrás de Sebá para que ele reforçasse o seu palanque com as lideranças fortes do Avante, ela foi por em prática um plano audacioso muito mais urgente: impedir a candidatura de Duque.

Disposta a tudo para não perder a reeleição, Márcia apresentou a Sebá um acordo vantajoso para que ele desistisse de se unir a Duque, garantindo por tabela que o Solidariedade negasse legenda ao deputado por já ter um compromisso prévio de aliança com o Avante.  Em troca, Sebá ganhou a vantagem de indicar a vice na chapa governista e por tabela extinguir qualquer chance do SD ceder a legenda a Duque aos 49 do segundo tempo, uma vez que o partido de Marília já deixou claro que ficará onde o Avante estiver nas eleições 2024.

O acordo é tão óbvio que Sebá selou aliança com Márcia antes mesmo de se reunir com as lideranças mais importantes do Avante em Serra Talhada. André Terto, Antônio de Antenor e André Maio só foram chamados para conversar após o acordo já ter sido fechado com a prefeita, uma indicação clara que Sebá não precisaria convencer os revoltosos a desembarcar oficialmente de mala e cuia no palanque da petista, liberando-os para ficarem independentes, o que não faria nenhum sentido se a ideia fosse uma aliança às claras PT/Avante.

A jogada é inteligente e ficou boa para todo mundo. Mesmo aliados internamente, nem Sebá e nem Marília precisam subir no palanque de Márcia nem tão cedo, evitando uma saia justa para os três. Ao mesmo tempo, Márcia inviabiliza a candidatura de Luciano e ganha fôlego para a reeleição, enquanto Sebá se beneficia indicando um vice de sua total confiança [Dr Leirson], mantém a chapa proporcional do Avante e de quebra ainda se fortalece para disputar a Alepe em 2026 – embora a prefeita já esteja ensaiando há tempos lançar o marido deputado estadual. Ela estaria disposta a desistir do plano? Só o tempo dirá.

De todos, só Marília não ganha nada com essa estratégia em Serra. Mantém a palavra dada a Sebá, mas tira do SD a chance de governar a segunda maior cidade do Sertão. Vale a pena, Marília?

E para fechar, sem querer desmerecer a capacidade e nem a inteligência política de nenhum dos envolvidos, mas é bastante curioso que essa engrenagem só começou a ser colocada em prática após Márcia ser chamada para uma reunião de pé de ouvido com João Campos, no Recife. Na mesa teria sido colocada uma aliança envolvendo PSB, PT, Avante, SD e Republicanos. Terá sido João o mentor dessa reviravolta em Serra? Parece que sim.

E Raquel? Se não ficar esperta não sentirá nem o bafo quente do calor de Serra Talhada em 2026.

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